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OS NOMES-DO-PAI - DE JACQUES LACAN

OS NOMES-DO-PAI

- O PAI IMAGINÁRIO, O PAI SIMBÓLICO E O PAI REAL, SEGUNDO LACAN

Lacan nos proporciona uma ampla abordagem sobre a importância da compreensão sobre os Nomes-do-pai, para entendermos o complexo de Édipo.

Os primeiros anos da vida da criança, a referência que ela tem é a figura materna, a mãe ou quem exerce esse papel.

Lacan nos dá não uma, mas três definições cruciais para a Psicanálise, aos Nomes-do-pai, os quais nos ajudam a entender perfeitamente o complexo edipiano (em especial, o do menino) e que traça, por assim dizer,

a estruturação psíquica, sendo eles o Pai real, o Pai simbólico e o Pai imaginário.

Na obra “Nomes-do-Pai”, fica evidente que Lacan não fala do pai biológico propriamente dito, mas, da função do pai, pois, é esse conceito fundamental que embasa o seu trabalho. O Nome-do-Pai, nos diz Lacan (2005), cria a função do pai e para entender melhor o que vem a ser essa função do pai, citamos a nota de Jacques Alan Miller que muito bem explicita e problematiza a questão:

“O Nome-do-Pai, que sucesso! Isso fala a todos. A paternidade tem pouquíssima evidência natural, sendo antes um fato cultural. O Nome-do-Pai, diz Lacan, cria a função do pai. Mas então de onde vem esse plural? Ele não é pagão, está na Bíblia. Aquele que fala na sarça ardente diz sobre si mesmo que não tem apenas um Nome. Entendamos: o Pai não tem nome próprio. Não é uma figura, é uma função. O Pai tem tantos nomes quantos suportes tem a função. Sua função? A função religiosa por excelência, a de ligar. O que? O significante e o significado, a Lei e o desejo, o pensamento e o corpo. Em suma, o simbólico e o imaginário. Com a ressalva de que se esses dois se ligam a três com o real, o Nome-do-Pai vira um mero semblante. Em contrapartida, se sem ele tudo se desfaz, ele é o sintoma do nó fracassado. (Lacan, (2005).

Lacan (2005, p.47) deixa claro no ensaio, que o pai é de fato o genitor. Mas, continua ele: “antes que o saibamos de fonte segura, o nome do pai cria a função do pai”.

São três as fases pelas quais a criança passa, quais sejam:

A fase oral: simbolizada pelo seio, o qual pertence à criança, embora pertença à mãe; é a fase em que mãe e filho encontram-se fusionados, não há ali dois sujeitos autônomos, mas um só, a criança é parte indissociável da mãe, a qual vê no bebê seu falo;

A fase anal: simbolizada por aquilo que Lacan chama de efusão (emói) das fezes. De acordo com Lacan: “A criança, ao soltar as fezes, concede-as ao que parece pela primeira vez como dominando a demanda do Outro, ou seja, seu desejo, que ainda permanece ambíguo.”

A fase genital, ou a hiância da castração: quando advém o que chamamos de complexo de Édipo, onde a figura da função paterna, ou do Nome-do-Pai ganha destaque e importância, pois é a partir dessa fase que a criança se reconhece como sujeito, mais do que isso, como sujeito faltante, e portanto, desejante, e a partir dessa engrenagem que se forma, a imputação da lei e da cultura, como limitadoras das pulsões de um sujeito que, vendo-se na iminência da perda de uma onipotência que cria possuir, para conservar o falo que imaginava ter, se afasta do amor incestuoso que possui pela mãe e volta-se para o pai, ou a quem exerce tal função, na esperança de manter-se viril, advindo daí a constante angústia, que Freud nomeou “angústia de castração”.

A lei introduzida por aquele que exerce a função do pai, a lei que barra/interdita o desejo do filho pela mãe produz a lei da proibição do incesto. De acordo com o mito introduzido por Freud (1912/2012), só o pai primordial gozava, (o pai anterior ao interdito do incesto, anterior ao surgimento da lei); então, a partir do assassinato do Pai da Horda primitiva, os demais puderam gozar, mas não podiam devorar o pai, porém, premidos pela culpa face ao parricídio, construíram um Totem, como sua representação. Esse pai primordial, recebe o nome de Pai Real, e de acordo com Lacan, como todo real é inacessível, isso se assinala pela que não engana, a angústia. (ob. cit, pág. 78).

Porém, ainda de acordo com Lacan, “é necessário colocar no nível do pai um segundo termo depois do totem, isto é, a função do nome próprio” (ob. cit, pág. 73), ao que ele chama de metáfora paterna.

Portanto, não é possível, quando escutamos a palavra “pai” no setting analítico, pensar apenas numa figura paterna única, mas no pai real, ou o pai do Totem, o pai da horda, o pai simbólico, ou pai biológico, ou aquele que exerce a função paterna e o pai imaginário, ou a figura do pai idealizado, o pai-fantasia e a esses três nomes, podemos nos referir ao que Lacan denominou a função paterna, tão importante ao entendimento da escuta analítica, pois como afirma Lacan: “A neurose é inseparável, aos nossos olhos, de uma fuga diante do desejo do pai, o qual o sujeito substitui por sua demanda.” (ob.cit, pág. 76).


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Freud, Sigmund – Obras completas, volume 11: totem e tabu, contribuição à história do movimento psicanalítico e outros textos (1912-1914) / Sigmund Freud; tradução Paulo César de Souza. – 1ª ed. – São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

2. Lacan, Jacques – Nomes-do-Pai, tradução André Telles – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005.


Adilson Martins dos Anjos é estudante do curso de Psicologia na Universidade Nove de Julho, membro da LAPP- Liga Acadêmica de Psicanálise e Psicopatologia da Universidade Nove de Julho, onde atua no cargo de vice-presidente e como monitor do Grupo de Estudos intitulado: “Desvendando Lacan”, participante de Grupo de Estudos sobre a Clínica Psicanalítica, com ênfase nos Seminários de Lacan, (Clínica Vieira Fazenda).

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2 Comments


fabianalouro1
fabianalouro1
May 08, 2021

"Pois essa função não é outra coisa do que a formalização da impossibilidade de todo e qualquer figura empírica legislar em Nome-do-Pai." (Safatle, 2009) É a impossibilidade na carne que caracteriza a atuação dos Nomes-do-Pai na vida simbólica, assim como uma representação de uma ordem Numinosa. Apenas algo numinoso poderia ocupar esta função, não é mesmo? Lacan foi fantástico, acho que por isso é tão cheio de histórias esse seminário, adorei o texto Adilson!!!! 😍

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Muito obrigado Fabiana. Sim eu acho o texto "Nomes do Pai", um dos melhores trabalhos do Lacan (talvez o melhor, rs). Penso que esse conceito, ao lado do conceito de "objeto a", são as maiores contribuições de Lacan, enquanto leitor de Freud, para a Psicanálise. E como a questão do Nome do Pai, atravessa a clínica, daí a importância desse conceito para quem exerce a escuta psicanalítica.

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